Tuesday, April 10, 2018

Black & White / Preto no Branco


Nota: Versão portuguesa mais abaixo.

A long time ago there was a little girl. She had big dreams and high hopes for life. She believed in Santa Claus and fairy tales, she even believed in people.

She was sweet and naïve, she loved to play pretend and no matter how much she was teased she enjoyed the innocence of being a child.

She never used bad words and she would never set a foot out of line, no so much because someone was watching her, but because she believed in following the rules. She was shy, but she believed in justice and playing fair, so if the situation would demand it, she would rise to the occasion. She had strong values and a thing for lost causes… after all, she believed people were inherently good.

She was curious and observant. She collected her data and then draw her conclusions. For her, the world was black and white.

She knew what she wanted to be from a young age, a certainty she would never experience again. She always cared for others, but she was joyful and untroubled. To the untrained eye she would fit wherever she’d go. She was class president and team captain year after year, and yet she would also be friends with all the (pre-labelled) troublemakers.

She had her whole life laid out, she wanted to work with children and help people, she wanted to reach those that didn’t fit in the box (a box she apparently fitted so well).  She wanted to create a school that would teach through arts and sports, where kids could be part of teams and be seen as more than their grades.

Everyone has always told her that if you work hard you succeed, so she really believed she could make it happen.  All she had to do was to be a good girl, follow the rules and work hard (and she was good at that!), and all the rest would work out on its own.

It sounded easy!

Then one not so special day everything started shifting. She started noticing little things, the things people would say, how they’d act, and slowly she realised that the people she had grew up around, that she was supposed to love and admire weren’t necessarily all so great. It was odd at first, she used to be a kid who liked everyone. She was still seeing the world as black and white, so if those people weren’t so amazing as she thought…. What did that make them?

What really turned the tables, however, happened a few months later. There were some news on T.V about a war. She remembered she had tried for a while to get it, what was happening, what it was about…? She couldn’t quite figure it out, so eventually she decided to ask. She just wanted to know who the bad guys were so she would know who to root for. It seemed to her like a simple question, except the answer she got was “It’s not that simple… This is not a fairy tale, there aren’t bad guys and good guys, it’s always more complicated than that”. And man that’s when everything stopped making sense!

Well, she got it, afterwards, she got it, but that changed everything, because suddenly there were so many grey areas. In one hand it was good, it meant that the people she didn’t admire 100% anymore weren’t necessarily bad, they just had different sides to them, and that was okay, but what did it mean about everything else?

If there were grey areas, was it still true that working hard meant reaching one’s dreams? Would making good for people really be that impactful and change their lives? If there were grey areas where did she stand??

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Preto no Branco

Há muito tempo atrás havia uma menina com grandes sonhos. Ela acreditava no Pai Natal e em contos de fadas, e até acreditava nas pessoas.

Era doce e ingénua, adorava brincar ao faz-de-conta e não se importava com o que os outros diziam, pois adorava a inocência da infância.

Nunca dizia palavrões, nem pisava o risco, nem tanto por ser muito controlada, mas porque acreditava nas regras que seguia. Era tímida, mas tinha um forte sentido de justiça, pelo que se a situação o exigisse, defendia aquilo em que acreditava. Tinha valores fortes e um je ne sais quoi para causas perdidas... pois acreditava que no fundo as pessoas eram boas.

Era curiosa e observadora. Recolhia toda a informação e depois tirava as suas conclusões. Para ela o mundo era preto no branco.

Desde cedo soube o que queria fazer na vida, uma certeza que nunca mais viria a experimentar. Preocupava-se com os outros, mas era alegre e serena. À primeira vista, integrava-se com facilidade onde quer que fosse. Fora sempre delegada de turma e capitã de equipa, e no entanto, era também amiga de vários miúdos considerados “rufias”.

Tinha a sua vida toda planeada, queria trabalhar com crianças e ajudar pessoas, queria chegar àqueles que não “cabiam na caixa” (uma caixa em que ela aparentemente cabia tão bem). Queria criar uma escola de sonho, em que se pudesse aprender através das artes e do desporto, onde os miúdos pudessem experienciar o que é fazer parte de uma equipa e serem vistos como mais do que as suas notas.
Toda a gente sempre lhe dissera que quem se esforça tem sucesso, por isso acreditava mesmo que podia realizar o seu sonho. Tudo o que tinha de fazer era ser portar-se bem, cumprir as regras e trabalhar muito (tudo coisas que ela fazia bem!), e o resto aconteceria naturalmente.

Parecia fácil!

Até que um dia, tão banal como tantos outros, tudo começou a mudar. Começou por notar pequenas coisas, coisas que as pessoas diziam, como agiam, e lentamente começou-se a aperceber que as pessoas que a rodeavam, com quem tinha crescido, que devia amar e admirar incondicionalmente se calhar não eram todas assim tão fantásticas. Foi estranho ao início, ela costumava ser uma pessoa que gostava de toda a gente. Ainda via o mundo a preto e branco, por isso se essas pessoas não eram assim tão fantásticas... o que é que elas eram afinal?

A gota de água, no entanto, aconteceu uns meses mais tarde. Havia umas notícias na televisão sobre uma guerra, que há já uns tempos ela andava a tentar perceber. Queria saber o que se passava, sobre o que era... mas não chegava a nenhuma conclusão, pelo que acabou por perguntar a um adulto. Queria apenas saber quem eram os bons e quem eram os maus, para saber por quem devia torcer. Parecia uma pergunta simples, só que a resposta que recebeu foi “Não é assim tão simples... isto não é como nos contos de fadas, não há bons e maus, é um bocado mais complicado que isso”. E nesse momento tudo deixou de fazer sentido!

Bem, com o tempo ela percebeu, mas a verdade é que tudo mudou, porque de repente havia tantas zonas cinzentas. Por um lado era bom, isso queria dizer que aquelas pessoas que ela já não admirava a 100% não eram necessariamente más, talvez tivessem apenas lados diferentes que ela antes não conhecia, e isso era bom... mas o que quereria dizer sobre tudo o resto?

Se existiam zonas cinzentas, seria ainda verdade que o trabalho árduo garantia a realização dos sonhos? E ajudar outras pessoas, teria isso de facto assim tanto impacto nas suas vidas? Se agora de repente existiam zonas cinzentas, onde é que isso a deixava, a si e ao seu futuro??

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