My Answer is You / A minha resposta são vocês

Nota: Versão portuguesa mais abaixo

I grew up hearing about how magical life was, full of inspiring people and loving creatures, but somehow along the way I developed a twisted vision of the world. I built a wall around me and became emotionally unattached to a degree I was merely numb.

The happy little girl that once bounced around talking to everyone who would listen had suddenly disappeared and the constant smile on her face, the one she so often got complimented on, was nothing but an act.

For no apparent reason the child who once believed she could change the world had turned into someone who felt worthless. The pressure of being an overachiever, a pressure no-one ever understood where it came from, led to a constant feeling of despair and self-loathing. Anxiety and fear crept in so deep into my soul that I started questioning the one thing I’d always been sure about.     

The plan I had dictated for my life was coming to its term and I wasn't ready for what would come next... mostly because I didn't know if I wanted it anymore, mostly because now I wasn't sure I had it in me anymore.

The world seemed too big for me to handle, but despite all the space around me and how tiny I was, I felt trapped. The feelings I had been carrying for years showed no intention to flee and I had to admit to myself that maybe what I was feeling was more than just an adolescent phase, it was my reality. I realized then that I wasn’t sure what I was more afraid of, sucking at the only job I had ever dreamed of or feeling stale for the rest of my life.

And so in a very uncharacteristically and unexpected move, I leaped...

I leaped because I was afraid. I leaped because I was desperate, because in a lot of ways it felt like my last chance, my only hope... I leaped because I grew up hearing how sweet I was, being a good girl, always taking care of the little ones around me, and despite all the challenges and difficulties, the tiny humans were still the ones to whom I could give myself completely. And that's when I met you... and as corny as it might sound, my whole life changed.

With you I rediscovered myself and my true passion. I defeated any doubts of what my vocation truly was. I changed, I grew, but more importantly… I loved you. In a way I wasn't sure I could still do.

I've always prided myself of my ability to compartmentalize and bottle emotions in, but with you I never stood a chance.

I am someone who loves to keep some distance, how big the world is, and to be able to travel from place to place leaving no roots, but meeting you, made me wish, for the first time, that I could make the world smaller.

My anxiety isn't gone, my faith in people hasn't been restored and my deep dark companions still travel around with me. In the core I haven't changed, so one might wonder if it’s worth the days I wake up in the middle of the night, heart clenched, for missing you, or the guilt I carry with me for “leaving you”, but I don’t have to wonder, because my answer is you. There was never a moment of doubt or a single regret. If there was ever a step I took in the right direction it was the one towards you. 

Happy Birthday little Munchkins!

 “How do I love you? It’s impossible to say. For if I had a million days, and time enough for all the praise, I couldn’t tell you all the ways… that I love you” (P.K. Hallinan)

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

My Answer são vocês

Cresci a ouvir histórias de um mundo mágico, cheio de pessoas inspiradoras e criaturas apaixonantes, mas sem saber como, ao longo do caminho desenvolvi uma visão destorcida do mundo. Criei um muro à minha volta e tornei-me desapegada ao ponto de ficar dormente.

A menina feliz que antes saltitava de um lado para o outro a falar com quem quer que a ouvisse desapareceu repentinamente e o sorriso constante no seu rosto, aquele pelo qual tantas vezes era elogiada não era mais do que uma máscara.

Sem razão aparente, a criança que outrora acreditara que podia mudar o mundo não reconhecia em si agora qualquer valor. A pressão de ser perfeita, uma pressão que nunca ninguém percebeu de onde vinha, levaram-na a um desespero constante. A ansiedade e o medo alojaram-se de tal maneira na minha alma que comecei a questionar a única coisa sobre a qual nunca tinha duvidado.

O plano que tinha ditado para a minha vida estava a chegar ao fim e eu não estava preparada para o que viria a seguir... sobretudo porque já  não sabia se era isso que queria, sobretudo porque já não acreditava se seria capaz de vingar.

O mundo parecia demasiado grande para o encarar, mas apesar de todo o espaço à minha de volta, e de me sentir tão pequenina, sentia-me encurralada. Os sentimentos que carregava comigo há anos não mostravam intenções de partir e acabei por ter de admitir a mim mesma que se calhar o que estava a sentir era mais do que apenas uma fase da adolescência, era a minha realidade.  Nesse momento percebi que não sabia o que me assustava mais, falhar no trabalho com que sempre sonhara, ou sentir-me estagnada para o resto da vida.

Assim, num movimento pouco característico e muito inesperado, arrisquei...

Arrisquei porque tinha medo. Arrisquei porque estava desesperada, porque me parecia a minha última hipótese, a única esperança... Arrisquei porque cresci a ouvir que era uma menina querida, sempre bem comportada e a tomar conta dos pequeninos à minha volta, e apesar de todos os desafios e dificuldades, eles eram os únicos a quem ainda me conseguia dar sem limitações. Foi assim que vos conheci... e por muito lamechas que possa soar, a minha vida mudou para sempre.

Com vocês redescobri-me, assim como a minha verdadeira paixão. Tirei quaisquer dúvidas sobre a minha verdadeira vocação. Mudei, cresci, mas mais importante que isso... amei-vos. De uma forma que pensava já não ser capaz.  

Sempre me orgulhei da minha capacidade de compartimentalizar e controlar as emoções, mas com vocês nunca tive qualquer hipótese.

Sou uma pessoa que gosta de manter alguma distância, do facto do mundo ser grande e de poder viajar de um lado para o outro sem criar raízes, mas conhecer-vos fez que com que pela primeira vez, desejasse que o mundo fosse mais pequeno.

A minha ansiedade não desapareceu, a minha fé nas pessoas não se refez e os meus demónios interiores ainda os trago comigo. No essencial não mudei, por isso alguns podem perguntar se vale a pena os dias que acordo no meio da noite, com o coração apertado de saudades, ou a culpa que carrego por vos ter “abandonado”, mas nem ponho essa questão, porque a resposta está em vocês. Nunca houve um momento de dúvida ou um único arrependimento. Se alguma vez dei um passo correcto, foi o passo que dei na vossa direcção. 

Parabéns Munchkins!

“Quanto vos amo? É impossível dizer. Pois mesmo que tivesse um milhão de dias, e tempo suficiente para todos os elogios, não conseguiria expressar todas as maneiras que vos amo” (P.K. Hallinan)

The day after the morning after / O dia depois da manhã seguinte

Nota: Versão portuguesa mais abaixo.

Now that the information has sunk in let’s move forward.

Let’s not condemn a man for hateful speech and then proceed to bully those who used their rights to vote for him. Let’s not dwell on what has been done, let’s focus on the things we can actually impact. Let’s improve intercultural dialogue, let’s close the gap in gender opportunities, let’s teach our children about LGBTQ rights, women rights, minorities rights… HUMAN rights.

Let’s make our voices louder than a single voice in the office. Let’s put last night’s results aside and think how we can prevent the nightmare we fear to become real.  Let’s use these feelings we have bubbling up inside to fuel us to be more active in creating the change and the world we want to see. Let’s educate our people, our children so that in years to come they don’t have to choose between the less of two evils. Let’s promote tolerance and acceptance so that one day we all see each other as equals.  Let’s teach our boys and girls to respect one another, to appreciate women AND men, to value people for their words and actions, instead of their gender, color or sexual orientation.

Let’s remember that more than worrying about all of these during election days/years we need to worry about it and work on it every single day, as only then change will happen.

Let’s watch our words, be aware of the discrimination or hateful slips we might let out here and there and make a conscious effort to correct them. Let’s be positive, but let’s act! Let’s be more than a critic voice in the background, let’s find ways to be actively involved and change the system, even if it’s little by little, even if it seems it’s too irrelevant to matter.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

O dia depois da manhã seguinte

Agora que a informação assentou vamos seguir em frente. 

Não vamos condenar um homem pelo seu discurso de ódio e de seguida atacar aqueles que utilizaram os seus direitos para votar nele. Não vamos chorar pelo leite derramado, vamos antes focar-nos naquilo que realmente podemos mudar. Vamos incentivar o diálogo intercultural, vamos reduzir a diferença de oportunidades entre géneros, vamos ensinar às nossas crianças os direitos da comunidade LGBTQ, os direitos das mulheres, os direitos das minorias... os direitos HUMANOS. 

Vamos fazer com que as nossas vozes ecoem mais alto do que uma voz sozinha num gabinete. Vamos por os resultados de ontem à noite de lado e pensar como podemos prevenir que o pesadelo que tanto tememos se torne realidade. Vamos usar estes sentimentos que temos a borbulhar cá dentro para nos motivar, para nos tornarmos mais activos na criação da mudança e do mundo que queremos ver.

Vamos educar o nosso povo, as nossas crianças para que nos próximos anos não tenham de escolher entre o menor de dois males. Vamos promover a tolerância e o respeito para que um dia nos vejamos a todos como iguais. Vamos ensinar os nossos meninos e meninas a respeitarem-se mutuamente, a valorizar mulheres E homens, a respeitar as pessoas pelas suas palavras e acções, e não pelo seu género, cor de pele ou orientação sexual. 

Vamos manter em mente que mais do que nos preocuparmos com tudo isto em dia/ano de eleições, temos de nos preocupar com isto e trabalhar para esta mudança todos os dias, pois só assim ela será possível. 

Vamos ter atenção às nossas palavras, ser conscientes dos descuidos discriminativos que deixamos escapar aqui e ali, e fazer um esforço consciente para corrigi-los. Vamos ser positivos, mas vamos agir! Vamos ser mais do que uma voz crítica em segundo plano, vamos encontrar maneiras de nos envolvermos activamente e de mudar o sistema, mesmo que seja pouco a pouco, mesmo que pareça demasiado irrelevante para importar. 

Fear / Medo

Nota: Versão Portuguesa mais abaixo.

I grew up in a family that takes politics seriously. My parents’ teenage and young adult years overlapped with my country’s freedom political revolution. A revolution made by the people, a non-violence revolution that ended dictatorship and censorship to our people and freed our colonies around the world. They saw change happening, they saw the good guys turning things around, making history and maybe because of that they truly felt through politics they could change the world. Even now, over 40 years later, they still gather regularly with the friends from those times and can’t help but discuss the current political situation of the country and the world. So I was raised to believe in democracy, to take my voting rights seriously, to be aware of the world around me. And although I try to stay informed and I fulfill my duties, I’m far from being an expert on politics, mostly because it fails to impress me. If my parents grew up with role models of positive change, my generation grew up hearing that politicians are liars and thieves. And that can’t be an excuse to not care, people in far worst conditions have fought for a change, but in general that’s why I usually make a conscious choice to refrain from sharing political opinions. This time it feels different though, this time it feels that it’s about more than just politics, it’s about human rights, values and beliefs.  It’s a controversial topic, I’m aware, but if you don’t stand up for what you believe while you can, one day it might be too late.

“First they came for the Socialists, and I did not speak out, because I was not a Socialist.

Then they came for the Trade Unionists, and I did not speak out, because I was not a Trade Unionist.

Then they came for the Jews, and I did not speak out, because I was not a Jew.

Then they came for me… and there was no one left to speak for me.”

Martin Niemöller (1892-1984)

Watching the elections last night was like watching a train wreck. You know it’s going to end badly and yet you can’t take your eyes of it. I’m not sure if this were the most important elections of our generation, but without a doubt it was the first time I truly feared for its outcome even though I’m not an American citizen, even though I live in another continent. The results shouldn’t be that surprising anymore, not after all we’ve seen over the past months, year, but I guess a lot of us were in denial, didn’t want to believe that such character could possibly achieve such a high position. 

I’m not pro Clinton, I was not with her, but still…

Last night, whatever the results might have been, it would have always been a lost. Just the fact that in a country with over 318 millions of people these were the two candidates, was a disappointment. When the reasoning behind a large majority of voters is choosing the less of two evils, that will always be a lose-lose situation. However, if those are the choices, if that’s the impossible situation people are faced with, I still can’t understand Trump’s victory. It’s a matter of principles. As an educator, but above all as a human being, I can’t accept that a man that has made several racist comments, that sees women as objects, that promotes rape culture, and violence can be the answer. How are we supposed to teach our children about human rights, tolerance and respect, when in this day and age, a person that judges and offends women on their looks, wants to build up walls, claims immigrants are rapists and terrorists, believes that tax evasion is being smart and that when you're rich you can just "grab them [women] by the p*ssy.", just became the most powerful person in the world?

Today in the dawn hours I received a message from my little sister. She was worried about Trump’s win. My little sister, who is 12 years old and lives across the ocean from the USA, that should have no reason whatsoever to even be following this elections this close, but she was, and she was in shock. Not because she is a half black immigrant young women in a foreign country, but because despite her years she has strong believes of equality and human rights. I reassured her that Trump is only a figure head, that he won’t be able to put in action all his single words and ideas, which I know was the reasoning behind a lot of his voters, and to some degree that might be true, but I can’t in all conscious say I’m not worried too, because it didn’t start with gas chambers…

We like to pretend like it happened ages ago, to claim that things like that could never happen again, at least not in independent, developed countries, you can even say I’m overreacting, but truth is, it all started with intolerance and hate speech and when people realized where things were headed it was far too late. 

For me last night was always going to be a loss, because Trump winning or losing I would always fear what would have come next, winning or losing it wouldn't change the fact that he got as far as he got, winning or losing it wouldn't have change what he thinks or feels about others that are different from him, winning or losing it wouldn't change the fact that a huge amount of people were not appalled by his words and actions. 

I don't just fear Trump’s actions, which I believe to a certain degree will be tamed by the rest of his party, I fear the message it sends. I'm not worried about my little sister, who has her head in the right place and is wise beyond her years, but I'm worried for all the boys and girls around the world that will grow up hearing the abominations Trump has said and will continue to say, I worry about the platform that this chair will give him to trivialize hateful speech. I honestly don't care if in the end he will have the power to act on his words or not, it is NEVER alright to say you can force yourself on a woman because you're rich and powerful, it is NEVER alright to make generalizations and accuse all immigrant’s to be drugs dealers or rapists, it's NEVER alright to call women fat pigs, dogs, slobs, and disgusting animals, it is NEVER alright to belittle, insult or sexualize others. 

We live in a world that works hard to raise awareness on discrimination, equality and tolerance, and then we hand the most powerful position in the planet to a misogynistic bully. 

Racisms, xenophobia, homophobia and chauvinism. It's no surprise to me that it still exists. I notice them every day, how people are not even aware of their prejudices. That alone scares me, but the fact that someone can come out in the open and say the things Trump has said and still get the unbelievable amount of votes he got... it terrifies me. I won't even go that far to discuss his access to the nuclear code or what he can actually do without the support of the congress, that's not even what I fear the most. My biggest fear is the propagation of these ideals. Ideals that people around the globe have worked so hard over the years to slowly overcome. The biggest irony of all these, might be that the results of Trump's victory were known to us on the 9th of November... exactly 27th years after the fall of the Berlin's Wall... Let that sink in...

This post is not in anyway to shame or discredit the people who voted from Trump, they were merely choosing the people they feel can represent them better, I respect that, it is their right. But don't tell me not to be scared... because that's my right too!

::::::::::::::::::::::::::::::::::

Medo

Cresci numa família que encara a política de forma séria. Os meus pais cresceram no auge da revolução da liberdade. Uma revolução feita pelo povo, uma revolução pacifica que pôs o fim à ditadura e à censura no nosso pais e que libertou as colónia portuguesas espalhadas pelo mundo. Eles viram a mudança a acontecer, viram os bons da fita a prevalecer, a virar o jogo, a fazer história, e talvez por isso tenham acreditado que através da politica podiam mudar o mundo. Mesmo hoje, mais de 40 anos mais tarde, ainda se juntam regularmente com os amigos “da causa”, e não conseguem não discutir a actualidade do país e do mundo. Por tudo isto fui criada para acreditar em democracia, para não encarar de ânimo leve o direito ao voto e para ter consciência do que se passa em meu redor. Mas apesar de me tentar manter informada e de cumprir as minhas obrigações estou longe de ser especialista em politica, até porque é uma área que não me fascina. Se os meus pais cresceram com modelos positivos de mudança, a minha geração cresceu a ouvir que os políticos são mentirosos e ladrões. E isso não pode ser desculpa para não nos preocuparmos, muitos em piores condições lutaram pela mudança, mas é por isso que de forma geral faço uma escolha consciente para não comentar politica. Desta vez abro uma excepção, porque desta vez não se trata apenas de politica, trata-se de direitos humanos, valores e crenças. É um tópico controverso, eu sei, mas se não falarmos enquanto podemos, um dia poderá ser tarde demais.

“Primeiro vieram atrás dos socialistas, e eu não protestei, porque não era socialista;

Depois, vieram atrás dos líderes sindicais, e eu calei-me, porque não era lider sindical;

Depois vieram atrás dos judeus, e eu permaneci em silêncio porque não era judeu;

Finalmente, vieram me buscar... E já não havia ninguém que pudesse falar por mim.”

Martin Neimoller (1892-1984)

Ver as eleições americanas ontem à noite foi como ver um comboio a descarrilar. Sabes que vai acabar mal e no entanto não consegues desviar o olhar. Não sei se estas terão sido as eleições mais importantes da nossa geração, mas sem dúvida foi a primeira vez que verdadeiramente temi um resultado eleitoral, mesmo não sendo norte americana, mesmo vivendo noutro continente. Os resultados já não deviam ser surpreendentes, não depois de tudo o que fomos vendo e ouvindo durante os últimos meses, ano, mas acho que grande parte de nós estava em negação, não queria acreditar que uma personagem assim pudesse atingir uma posição de tanto poder.

Não sou pro Clinton, não estava com ela, mas...

Ontem à noite, qualquer que fosse os resultado, seria sempre uma derrota. O facto de num país com mais de 318 milhões de habitantes, os candidatos finais serem aqueles dois é por si só é uma desilusão. Quando a razão por detrás de grande parte dos votos é “escolher o mal menor” qualquer que seja o resultado será sempre uma derrota. Contudo, sendo estas as escolhas, sendo as pessoas confrontadas com esta escolha impossível, ainda assim não consigo perceber a vitória do Trump. É uma questão de princípios. Como educadora, mas acima de tudo como ser humano, não consigo aceitar que um homem que fez repetidamente comentários racistas, que vê as mulheres como objectos, que promove a cultura do abuso sexual e a violência possa ser a resposta. Como é suposto ensinarmos às nossas crianças os direitos humanos, tolerância e respeito, quando nos dias de hoje uma pessoa que julga e ofende mulheres com base no seu aspecto, que quer construir muros, que afirma que os imigrantes são terroristas e violadores, que acredita que fugir aos impostos é ser esperto e que quando és rico e famoso podes simplesmente “agarrá-las [mulheres] pela r*ta”, acabou de se tornar a pessoa mais poderosa no mundo? 

Hoje, ainda de madrugada, recebi uma mensagem da minha irmã mais nova. Estava preocupada com a vitória de Trump. A minha irmã, que tem 12 anos, que vive a um oceano de distância dos EUA, que não deveria ter qualquer razão para sequer estar a seguir estas eleições de perto... mas estava, e estava chocada com o resultado. Não porque é uma jovem mulher, mulata, imigrante num país estrangeiro, mas porque apesar da sua idade tem opiniões fortes sobre igualdade e direitos humanos. Assegurei-a que  Trump é apenas o rosto do partido, que não lhe será permitido por em prática todas as suas ideias, o que sei que foi o que levou muita gente a votar nele, e que até certo ponto será verdade, mas ainda assim não posso dizer de consciência totalmente tranquila que não estou também preocupada, porque as coisas não começaram com câmaras de gás... 

Gostamos de fingir que aconteceu hà eras atrás, de afirmar que nada igual se repetirá, pelo menos não em países independentes e desenvolvidos, podem até dizer que estou a dramatizar, mas a verdade é que tudo começou com intolerância e incitamento ao ódio, e quando as pessoas se aperceberam as proporções que estava a tomar, já era demasiado tarde. 

Para mim, as eleições de ontem seriam sempre uma derrota, porque vencendo o Trump ou não, teria sempre medo do que viria a seguir, vencendo ou não isso não mudaria o facto que ele chegou onde chegou, vencendo ou não, isso não mudaria o que ele pensa ou sente sobre aqueles que são diferentes de si, vencendo ou não isso não iria mudar o facto que uma enormidade de pessoas não ficou horrorizada com o seu discurso. 

Não temo apenas as acções de Trump, que acredito que de certo modo serão controladas pelo resto do seu partido, temo acima de tudo a mensagem que a sua vitória transmite. Não estou preocupada com a minha irmã que tem a cabeça no lugar certo e sabedoria acima da média, estou preocupada com os rapazes e raparigas espalhados à volta do mundo que crescerão a ouvir as abominações que Trump tem dito e que continuará a dizer. Preocupa-me a plataforma que este cargo lhe dá para banalizar um discurso de ódio e discriminação. Não me interessa se ele terá o poder ou não para por em prática todas as suas ideias, NUNCA é aceitável dizer que podes forçar relações com a uma mulher por seres rico e poderoso, NUNCA é aceitável fazer generalizações e acusar todos os imigrantes de serem traficantes de droga ou violadores, NUNCA é aceitável menosprezar, insultar e sexualizar outro ser humano. 

Vivemos num mundo onde se trabalha arduamente para diminuir a discriminação e promover igualdade e tolerância, e depois entregamos a posição mais poderosa do planeta a um bully misógino. 

Racismo, xenofobia, homofobia e machismo. Não é surpresa para mim que ainda existam. Reparo neles todos os dias, como as pessoas nem se apercebem dos preconceitos que carregam. Só por si isso assusta-me, mas o facto de alguém poder abertamente dizer as coisas que Trump tem dito e ainda assim consegui o número inacreditável de votos que ele conseguiu... é aterrorizador. Nem vou mais além, discutir o acesso ao código nuclear ou que ele realmente pode fazer com o apoio do congresso, isso nem é o que mais temo. O meu maior medo é a propagação destes ideais. Ideais que tantas pessoas à volta do globo têm lutado tanto para ao longo dos anos lentamente superarem. A maior ironia disto tudo, será talvez o facto da noticia da vitória de Trump nos chegar hoje, dia 9 de Novembro... Exactamente 27 anos depois da queda do Muro de Berlim... 

Não pretendo com isto desacreditar as pessoas que votaram no Trump, pois limitaram-se a eleger o candidato que pensam que melhor pode representá-los, respeito isso, estão no seu direito. Mas não me digam para não ter medo... porque também estou no meu!